A elevada produção científica em astronomia impele-nos a encontrar novas formas de realizar a divulgação científica de conteúdos, mas também de processos. Assim, podemos promover atitudes positivas em relação à ciência e o público pode lidar mais facilmente com a má ciência, a fraude científica e as notícias falsas. Foi neste contexto que surgiu o CoAstro: @n Astronomy Condo – um projeto de ciência cidadã que ligou diretamente quatro astrónomos, nove professores do ensino básico, quatro divulgadores de ciência e um mediador. No CoAstro, cuja primeira edição teve a duração de um ano letivo, os conteúdos e os processos científicos foram apropriados e integrados pelos professores nas iniciativas escolares, tendo chegado a cerca de mil pessoas.
Os resultados mostraram grandes melhorias no conhecimento substantivo e processual dos professores; mudança positiva nas atitudes e crenças epistemológicas em relação à astronomia; bem como, o aumento da qualidade das práticas de divulgação científica dos professores. Os dados dos astrónomos e divulgadores mostraram uma diferença principal: os divulgadores de ciência (ao contrário dos astrónomos) não mudaram a sua perceção sobre a classe profissional dos professores, devido à sua participação no CoAstro. Na verdade, ambos os grupos concordam que o projecto: i) foi útil (e facilitou) um trabalho de divulgação astronómica; ii) foi uma oportunidade para os professores aumentarem os seus conhecimentos processuais sobre astronomia; iii) foi, à partida, arriscado, pela sua ideia de envolver os professores na investigação astronómica real; iv) reforçaram a sua própria perceção sobre a importância e os propósitos das práticas de divulgação, promovendo novas competências de comunicação e novas formas de estruturar atividades de divulgação astronómica.
Em astronomia o principal objetivo da investigação não é, muitas vezes, a sua divulgação ao público. No entanto, a sua relevância social deve ser um ponto de partida. Para o público, nem a compreensão dos resultados, nem os processos que os conduziram, são tarefas triviais. Isto é ainda mais relevante quando se verifica um grande aumento da produção científica. Uma forma de enfrentar este desafio, utilizada pelos institutos de investigação, é produzir comunicados de imprensa, na esperança de que os meios de comunicação social os repercutam. Embora esta fórmula tenha vantagens óbvias, a sua aleatoriedade e o efeito de curto prazo, por exemplo, conduzem a diversas limitações e tendem a ter uma duração limitada e um impacto reduzido no público sem conhecimento da astronomia. Assim, existe uma necessidade urgente de criar mecanismos/estratégias que divulguem rapidamente os resultados da inovação científica sem desencorajar, no processo, a promoção de atitudes positivas em relação à ciência e à própria natureza da ciência. Contudo, a questão é como fazer isto com os recursos humanos e o financiamento limitados normalmente associados à divulgação. Para responder a estes desafios surgiu o CoAstro: um projecto de ciência cidadã que visava a idealização, implementação e avaliação de um mecanismo de divulgação científica que permitisse o fluxo de resultados e processos científicos entre investigadores e o público, através do envolvimento de estruturas de divulgação (já presentes nos institutos de investigação) e participantes não científicos (professores).
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